segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Samhaim está chegando

Samhaim se aproxima.


Minha iniciadora costumava dizer que nessa época Ela é a Senhora da Face Pálida, Aquela que se veste de branco.

Minha sacerdotisa dizia que este era o tempo do grande mistério, a Morte e a velhice, lado a lado chegavam e se iam, cedendo espaço para a Vida vindoura.

Ele o grande guardião dos mistérios, morto, descansa nos braços, e ao mesmo tempo, no ventre Dela, e renova a energia, refazendo o ciclo.

Nossos antigos que já se foram, com as luzes do Jack, se aproximam para nos rever, pois nessa época, também podemos com eles ter.

E Samhaim é isso. União e equilíbrio entre aquilo que vive e aquilo que morre.

Em termos técnicos (rs) este é um dos sabats mais trabalhosos, pois além do número de pessoas ser normalmente maior que os demais (da mesma forma que Beltane), ele tem um numero de itens a serem contemplados que o torna muito longo e cansativo.

Tudo começa com a decoração, mas até a conclusão, haja braços, pernas e energia!

Uma das formas de celebração do Samhaim é o traçado de dois círculos mágicos que se interseccionam. Um dos círculos é o dos vivos, o outro, dos mortos.

A idéia é que os participantes, que estão no circulo dos vivos, possam se encontrar com seus entes queridos que já partiram. É comum que haja uma sacerdotisa controlando as energias do circulo dos vivos e outra no circulo dos mortos.

Em algumas tradições, usa-se a semente de romãs, simbolizando a descida de Perséfone ao Hades, como um meio de levar-nos ao contato com o circulo dos mortos e, a maçã para trazer-nos de volta ao circulo dos vivos.

A travessia entre os círculos necessita de uma vassoura, pois trata-se da travessia de dois portais.

Outra prática comum é a confecção dos jacks o’lanterns, que são as lanternas feitas em abóboras. Estas lanternas têm uma careta, para afastar os maus espíritos, porém, a vela em seu interior (que algumas vezes pode ser acompanhada de fotos dos que já se foram) serve para iluminar o caminho dos seus mortos. Antigamente, estas lanternas eram originalmente feitas de nabos gigantes e colocados no portão das casas. Uma lanterna por família.

Algumas tradições preocupam-se com o desperdício de alimentos e reaproveitam o miolo retirado das abóboras, fazendo doces ou ainda, assando as sementes para servir como aperitivos.

Pessoalmente acho que em tempos difíceis com escassez de alimentos em tantos lugares do mundo, que esta prática é saudável e nutritiva.

Por outro lado, o Wecatem adotou outra postura. Optamos por abolir as abóboras e fazemos as lanternas, com as caretas em sacos de papel (aqueles marrom de mercado e padaria), colocamos areia no fundo, e as oferecemos com o mesmo intuito, porém com desperdício zero de alimentos e dinheiro.

Falando em alimentos, é comum que nos sabats cada um leve um prato de alimento para compartilhar com os demais, porém, em Samhaim além do compartilhamento com os vivos, há também o compartilhar com os mortos, então o cardápio é associado ao gosto daqueles que partiram. Cada um leva o prato predileto do seu ente querido. Durante o banquete, relembramos as alegrias compartilhadas com eles, piadas, músicas e outras lembranças, como fotografias, mas sempre com a preocupação de ser uma cerimônia alegre.

Outra sugestão para o banquete é utilizar-se de pratos disponíveis na estação. Afinal, tradicionalmente, Samhaim seria celebrado durante a “colheita sangrenta”, período farto de carnes, pois os camponeses sacrificavam as reses que não iriam resistir ao inverno rigoroso da Europa e uniam estas carnes às sobras de vegetais que também não suportariam a temperatura. As comidas então eram encorpadas e multicoloridas, com bastante carnes, legumes e muito vinho.

À mesa sempre é deixado um lugar, com pratos e copos servidos, com tudo que está disponível à mesa, em honra aos que partiram. Este prato será oferecido no altar dos ancestrais, montado no circulo dos mortos.

O altar dos ancestrais, normalmente contém um galho grande e seco de arvore, com fotos dos entes queridos, bilhetes dos familiares e fitas coloridas, com pedidos e recados.

Outros itens, que lembrem estes familiares também podem ser colocados neste altar, alem de oferendas como flores, água ou comida. Sem contar que, também podem ser colocados itens relativos à divindade (deusa e deus) que estarão sendo representados no circulo dos mortos.

Demais itens de altar, (cálice, athame, pentáculo, velas, castiçais, caldeirão) são livremente dispostos neste altar.

O Samhaim também é considerado um tempo entre os tempos, por estarmos entre dois portais e em dois círculos mágicos, acreditamos que as linhas de tempo e espaço se cruzem, facilitando assim a leitura de oráculos para a próxima roda.

Um dos melhores sabats que participei, foi um Samhaim que se valeu de três círculos mágicos: o dos vivos, onde fizemos o banquete em honra aos mortos, o dos mortos, onde deixamos nossos recados, lagrimas e oferendas (e aproveitamos para nos despedir das coisas mortas de nossa vida, enterrando-as/queimando-as definitivamente de nossas vidas), e o circulo entre tempos, todos se cruzando, onde o futuro abria as portas para nossa observação.

Os três funcionaram simultaneamente, e evitaram que o sabbat ficasse tão longo como de costume, pois isso ocasiona dispersão de energia e um cansaço extremo no final do rito.

Cada um partia do circulo dos vivos, comungava com seus mortos e era recebido pelo seu futuro, para ser novamente recebido em seu presente.

Neste rito, contamos com três sacerdotisas, com o auxilio das sibilas com os oráculos, com Hell e Perséfone no circulo dos Mortos, e com nossa Matriarca Hécate, no circulo dos vivos.

Foi um rito intenso, divertido e muito, mas muito bonito.

Quando terminaram as ofertas aos mortos, este circulo foi desfeito (por si só), pois as lanternas queimaram-se espontaneamente (atenção: caso pensem em repetir este tipo de lanterna, elas precisam ter areia em seu interior, e deve-se tomar muito cuidado com o vento, pois sempre há riscos de acidentes com o fogo). O circulo entre os tempos, ou circulo do sibilas, também foi desfeito, após todos terem passado por elas e terem feito suas consultas e com o devido pagamento (alguns pagaram com moedas, mas todos ofereceram vinho).

Então ficou apenas um ultimo circulo, o dos vivos, onde cantamos, tocamos e dançamos musicas regionais, como a catira, por aquelas coincidências do destino, a pessoa que nos ofereceu o espaço, que abriu sua casa para o rito, tem uma verdadeira paixão por nossa historia musical. Outras sincronicidades ocorreram, tais cômo pessoas levarem instrumentos musicais, que nesta hora serviram de acompanhamentos.

Neste ultimo circulo celebramos o último referencial de Samhaim, o Ano Novo Pagão. Comemos, bebemos, dançamos e rimos muito, desta vez com os vivos e com vistas no futuro cheio de novidades que viria.

A ultima fortuna feita é com um bolo, cortado em quadradinhos, com uma bençao em cada pedaço, que é dado aleatoreamente a cada participante.

Estas bênçãos são o “recado” dos deuses a cada um. E servem de orientação ao longo do ano inteiro.

É isso, Samhaim se aproxima. Saudosismos também. Por isso resolvi compartilhar com vocês a saudade que senti hoje deste rito tão elaborado, tão complexo e ao mesmo tempo tão belo.

Aproveito para homenagear a todos que estiveram presentes neste rito, tornando-o tão importante pra mim!

Feliz Samhaim. Feliz Roda Nova!

E para aqueles que rodam pelo Sul: Aproveitem o Beltane por mim! Eu aceito convites para celebrar com vocês!

Beijos,

3c