segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Mulheres que se vestem de Sangue

E assim, como quem desperta de um profundo sono, ou como quem cai em no mais belo cenário de sonho, lá estava eu, sob um sol matinal brilhante, em uma ilha, farta em cores, flores e brilhos. O céu límpido me lembrava a primavera, as cores vívidas e os aromas das flores reforçavam a idéia. À minha volta, algumas montanhas de presença forte, verdes e senscientes de tudo o que ali, naquela planície ocorria.


E eu lá, por pouco mais de um instante, olhava absorta, esta paisagem belíssima. Sentia-me sozinha e diminuta, diante da beleza de todos os Deuses  que regiam aquele lugar.
Achava-me apenas sozinha. Ao meu lado um homem de sorriso largo, torso bronzeado, olhos calorosos e claros. Seu cabelo era de um bronze que até hoje nunca conheci. E ele ali, falava comigo... como se fora meu guia, neste local paradisíaco. Não me recordo de nossos diálogos, mas sinto ainda agora, forte no peito o que me disse...


Descemos um pouco e avistamos uma espécie de vila, ou talvez uma tribo. A mim, parecia um balneário cheio de turistas de todas as nacionalidades, mas não de todos os gêneros. Pois apenas um homem havia ali, aquele me acompanhava. Meu guia.


Ele me conta que esta tribo, (era de fato uma tribo), há séculos ali existia. De fato era realmente composta de mulheres. Mulheres que traziam sua linhagem para este local, ano após ano. Após a menarca, em algum momento da vida, uma ou mais mulheres da mesma geração, iriam visitar esta ilha, especificamente neste período, neste festival.


Este encontro era anual.


E ele me apresenta uma matriarca, negra, linda. E ela me diz que sua familia "está" ali já há mais de 300 gerações. Apesar de eu não compreender o conceito de estar que a matriarca utilizara, muito menos o que ela dizia, meu guia tentava ajudar-se com a tradução e com as explicações.


Ela então nos leva a uma parte mais afastada da tribo, onde uma grande cabana de madeira foi construida. Pede que o guia aguarde lá fora, e me mostra o interior.
A principio, me parece estranho, pois a cabana apesar de grande por fora, por dentro era imensa. Suas paredes não eram mais de madeira, pareciam ser, em algumas partes, feitas de barro, em outras, de rocha.
Uma série de inscrições rupestres (por falta de definição melhor), marcavam estas paredes, com histórias de mulheres, com histórias de famílias, e algumas poucas, pareciam descrever uma civilização inteira... pelo menos, era o que eu entendia. Melhor dizendo, era o que eu sentia. Alias, naquele local, o entendimento não representava muita coisa. Os sentidos pareciam ser mais importantes. As emoções pareciam ser a energia motriz da comunicação não-verbal. Alias, percebi que naquele local, TODA comunicação era não verbal.


Andamos muito, eu e Negra matriarca, até algum lugar que seria o fundo da cabana, que agora mais lembrava uma caverna. Lá tinham centenas e centenas de jarros de cerâmica, mais altos que eu, com tampa. Eles pareciam ricamente adornados, por finíssimas linhas de tinta, desde sua base. Alguns tinham estas linhas até o topo, outros, muitos outros, pouco mais que até a metade e, apenas alguns, tinham essas linhas abaixo da metade. Estas linhas lembravam as mais delicadas rendas tecidas no nordeste, mas eram diferentes, diferentes das rendas e, diferentes entre si. As cores pareciam jamais se repetir.  Os desenhos também.


De repente eu sinto, eu compreendo. Cada jarro pertencia à uma das integrantes das famílias deste imenso clã. Este jarro era o depositário secular do sangue vertido por cada uma das mulheres que integravam esta tribo. Eram jarros menstruais... Ela me mostra aquele que seria o meu jarro, ou o jarro de minha família (ainda estou perdida no conceito), e ele era um dos muitos que estavam marcados pouco acima da metade. Entendo  agora que os desenhos são feitos pela umidade do sangue,  que demarca o vaso, como a terra vai se demarcando durante as eras.


Sentamos ali, em silêncio. Na mais profunda tranquilidade e cumplicidade. Eu entendera. Era apenas isso que ela queria. Que eu entendesse... o silencio durou por minutos ou horas, não sei dizer... mas foi por um tempo confortável e caloroso. Deixamos a cabana-caverna. Meu guia lá fora me esperava. Tinha muito mais a me mostrar.


Seguimos então, pra outra área da aldeia. Milhões de perguntas saltitavam em minha cabeça, mas eu não me atrevia a perguntar... Nem mesmo a mais simples curiosidade de saber por que meu guia era o único homem ali presente, eu tinha coragem de esclarecer, pois qualquer palavra que eu emitisse, parecia agredir o equilíbrio ali instalado.


Chegamos. Nesta àrea, uma menina, entre seus 13 e 15 anos me recepciona. Novamente meu guia se afasta. Ela era belíssima, seus cabelos castanhos ondulados. Sua pele bronzeada, seus olhos verdes. Sua boca parecia uma fruta madura, doce e úmida. Que boca! Ela me leva à uma área, onde outras mulheres, das mais diversas etnias, misturam ervas, no chão, em uma espécie de tanque / canal. É uma mistura gelatinosa, vermelho vivo. A garota me diz que parte desta mistura vem do sangue dos jarros, do sangue de todas as mulheres do mundo, a outra parte é retirada de ervas, que ajudarão na consistência necessária, para que, após a secagem, esta mistura vire um tecido. Deste tecido serão feitas as túnicas das mulheres que se vestirão de sangue esta noite.


Pergunto sobre as mulheres que se vestirão de sangue, por que da ritualística, de onde elas vêm, sua idade e o significado desta vestimenta.
Parte de minhas perguntas são ignoradas. Mas consigo saber que é uma grande honra, pois poucas são escolhidas para se vestir de sangue. A mulher se veste de sangue apenas uma vez na vida. Há apenas um festival por ano, e por ano, apenas 13 ou 19 mulheres são escolhidas. Ser escolhida é a maior benção que uma mulher desta tribo pode ter. Ela, a garota, ainda não tinha sido escolhida, mas se diz muito feliz por saber que, em minha primeira visita à tribo, tive esta honra.


!!!!


Sem palavras. Eu havia sido escolhida para algo que não sabia o que era, não fazia questão, e não saberia honrar com a pompa correta, enquanto aquela garota achava esta escolha a décima maravilha do mundo. Não, isto estava errado.


Ela me devolve ao meu guia.


Ele então me mostra a tribo inteira e agora, o pôr do sol se aproxima. Ele me diz que preciso me preparar. Pois a noite seria para mim deveras importante.
Eu pergunto então, o que ocorre neste ritual, com estas mulheres. Ele me diz que elas serão mortas, (parece não se importar em me dizer que EU SEREI MORTA!), em honra à todas as divindades que sangram. Que elas recebem o título de matriarcas e as honras de deusas, na terra, encarnadas. Segundo meu guia. Estas mulheres escolhidas, serão honradas como deidades até o final da existência humana. Serão tratadas como irmãs pelas outras deusas, até o final de todos os tempos.


E eu ali, aparvalhada, amedrontada, maravilhada e estarrecida.


Ele me diz que as integrantes do clã já são Escolhidas. Já são especiais, já que não pertencem de fato à uma unica família, à uma unica linhagem, à uma unica etnia. Mas pertencem à um único clã. à um único sangue.


Então uma bela mulher me chama. É hora dos preparativos. Banhos de ervas, chás, perfumes e adereços precisam ser trabalhados.


Uma última pergunta em minha mente: "Como então, elas sabem que devem vir para cá uma vez por ano, se não se conhecem? Como elas sabem que fazem parte do clã? Como elas sabem que foram escolhidas?"


E meu guia responde: "Simples, a este lugar só se chega de uma forma: Elas sonham!"


E então eu acordei....


3c
Março/2004

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Benção de Yule

Circe

Que seu sorriso continue sendo a sua força
Que sua voz propague a mais forte e doce magia
Que seu corpo continue a ser o templo
e que seu templo seja amado
por você e pelo ser desejado!!!

Seja Calixto
Seja Circe
Seja Cency...
Seja o que sonha
e sonha o que seja...
que o que deseja
seja na medida certa
pelos Deuses realizado!!!



(Aracni)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Passarinho que come pedra, sabe o cú que tem!

Adágio popular que me foi ensinado por minha avó e reforçado por minha mãe...
Desde que entrei no período de dedicação, esta frase pra mim passou a ser o sinônimo da lei de ação e reação, ou seja, da Lei Tríplice...

Analisando melhor, estes dizeres nos falam profundamente da responsabilidade pessoal.
Das escolhas que fazemos e do que recebemos por estas escolhas.

Mas, parece que o ser humano esquece que o direito que lhe assiste, também pertence ao seu igual; que o outro tem direito a fazer suas escolhas e consequências.

Devíamos ser capazes de defender ferrenhamente o direito que o outro tem de se ferrar... de errar... de aprender... de se isolar... de fazer besteira...

A sacerdotisa que me treinou pós-iniciação costumava usar uma frase muito legal, que dizia: "Posso não concordar com suas palavras, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las". Que expressa a forma que eu acho que deveríamos reagir às pessoas a nossa volta.

Não compreendo muito bem como temos a capacidade de espelhar no outro todas as nossas frustrações e sombras, mas dificilmente espelhamos algo bom. Guardamos aquilo que o carimbo de "aprovado" tem nosso conceito moral interno, somente para nós mesmos. Egoisticamente.

Então somos capazes de dividir o mal de nosso consciente, subconsciente, inconsciente... mas, o bom não...
Porque? Não sei a resposta... E divaguei no assunto, perdendo o rumo da prosa.

 Mas, voltando à responsabilidade pessoal... ontem conversava com um amigo, e do nada aflorou-se em minha memória o caso de um garoto que "amadrinhei" durante alguns anos. Este garoto, de quem eu tanto gostava e hoje sequer me lembro o nome, era morador da favela de Vila Prudente. Quando o conheci ele tinha 8 anos e vendia balas no sinal. Me apeguei ao garoto, e durante uns 4 anos, dei-lhe material escolar e vestimentas, alguns passeios, alguns dias em minha casa. Ao mudar-me de São Paulo, perdi contato com ele. A última notícia que tive, quando ele tinha 13 ou 14 anos, é que ele tinha se envolvido com o crime e com as drogas pesadas.

Eu falava sobre escolhas... Falava que todos nós escolhemos o que atraímos e as consequencias que  recebemos. Porém, também acredito que somos produto da crença do meio em que vivemos. Que o meio nos molda, nos afirma. Que o meio pode dizer e reafirmar que sou um rato, e eu,  sem influencia de outro meio ambiente, acreditarei que sou. No meio em que o garoto vivia, era correto roubar, drogar-se e ter raiva de quem quer que fosse que tivesse alguns centavos a mais que ele mesmo. No meio em que o garoto cresceu, ser rico era ofensivo. Ser trabalhador humilhante e ser bandido era ser nobre. Como um cão, o indivíduo segue os parâmetros de sua familia e da sociedade mais próxima. Como eu, você ou qualquer outra pessoa podemos cobrar deste garoto os padrões morais que usamos? Os valores deste e de muitos outros garotos foram deturpados pelo meio em que viviam. O Certo, continua sendo certo e o Errado continua sendo errado, mas o Certo, lá na favela de Vila Prudente é roubar pra viver e o Errado é ter que se humilhar diariamente, sujeitando-se à vontade de algum estranho, em troca de alguns míseros trocados ao final do mês.

Então pergunto: Que escolha teve este e tantos outros garotos? Tornaram-se eles consequencias dos atos de outrem?  Estava ele destinado a ser um ser à margem do sistema vigente? Como ele poderia livrar-se desse destino?

A escolha que ele teria seria a mudança de ambiente... pois isso funcionou comigo, que, tanto quanto ele, cresci em um bairro-favela de São Paulo, que tinha os mesmos valores que o bairro em que ele cresceu, porém, minha familia possuía valores diferentes. O meu primeiro meio social, divergia do segundo... fui obrigada a fazer "julgamentos" de valores ainda muito cedo... Ainda assim,  fugi de casa entre 14 e 15 anos, fui garota de rua... mas um dos meus valores era "o trabalho dignifica o homem" e complementando: "nunca diga não ao trabalho, senão o dinheiro não fala mais com voce!"  (todos ditados/valores ensinados por minha avó... Então eu me "descontaminei" do meio conflitante, e pude viver os  meus 150 anos restantes, da forma que optei...

Mas e o menino, teve opção?

Então, será que passarinho que come pedra, sabe realmente o cú que tem?
E quando o passarinho não sabe que está comendo pedra?
E quando o passarinho não sabe que tem cú?
E quando o passarinho não sabe cantar?
E quando o passarinho não sabe voar?
E se ele não sabe sequer que é passarinho?

Onde fica a escolha?

Se eu acreditar no dito, sempre e cegamente, não verei as circunstancias que levaram o individuo à uma situação de solidão, tristeza, abandono, ou de muito amor por si mesmo.
Se eu acreditar, eu me distancio do problema do outro, e não tento ajudá-lo... não interfiro...

Então, se eu não ajudá-lo, não me relacionei com ele, se não me relacionei, não sou mais humano...
Ainda penso...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Engodos, Farsas e Mentiras = Mistérios

Há uma indignação natural quando ouvimos alguém dizer: - Para me seguir, é necessário entregar-se! Deixe de lado seus pensamentos, deixe de lado seus achismos baratos. Entregue-se à minha sapiencia. Sirva-me! Somente assim terá direito e acesso aos Mistérios! Aprenderá comigo como ser um grande líder!


Dizemos (automaticamente) que essa pessoa está tomada pelo Poder, pela Empáfia, pela Arrogância. E sentenciamos que esta pessoa aprenderá com a vida que esta não é a forma correta de agir, de pensar ou de tratar um ser humano igual. Ela vive em Erro! Levamos esta atitude à um quase-sinônimo de pecado.


Mas, se refletirmos sobre as tradições de mistérios, de quaisquer origens, desde as egípcias até os cultos afro-brasilieiros, o que é mesmo que vemos?


Exatamente isso! O individuo se entrega (ou é entregue) aos cuidados do seu Tutor/Mestre. Vai servi-lo e através deste serviço vai servir aos seus deuses, e aprender o Ofício de ensinar.


O pupilo/discipulo vai dedicar-se ao aprendizado. Não somente do sistema mágico, mas do sistema de vida de seu mestre; não de como fazer, mas da linearidade de pensamento e lógica de cada uma das ações.


Então, no fundo no fundo, não há Erro em exigir, no sistema de discipulato, 100% da natureza do aprendiz. Não está errado lembrá-lo que seu sacerdote é e sempre será alguem que precisa de seu eterno respeito, pois sempre estará a frente dele no caminho.


Há uma coisa que todos nós esquecemos: Seu Sacerdote/Sacerdotisa É a representação do Deus, da Deusa. Se assim o é, quem melhor que ele pra dizer a você como dirigir sua vida?


E para aqueles que acham essa afirmação absurda, pergunto: Quão absurda é, a representação do Grande Rito, num ritual wicaniano? Uma faca e um copo são capazes de representar o ato sexual sagrado dos deuses. Por que então seria absurdo pensar que um ser humano possa ser divinizado a ponto de substituir a divindade aqui, neste plano?


Se há erros, não creio que seja na forma em que o discipulato vem sendo aplicado ao longo dos milenios...Afinal, ele persiste até hoje e com sucesso...


O erro está em não deixar claro, ao discipulo, quando este procura o caminho.
O erro está em dizer ao aprendiz que ele será tratado como igual, um dia.
O erro está em aceitar um caminho tão penoso, sem saber se e quando essa  subserviência vai acabar.


Muito mais honesto é dizer claramente suas regras, dando ao discípulo o direito de escolher se quer ou não entrar nesta roubada, que tentar tornar o mundo mágico numa democracia moderna e ilusória. Virando o sistema de democrático à ditatorial, quando lhe interessar.


Viver tem um ônus, aprender tem um ônus.Todo bonus, tem seu ônus. Ao discipulo cabe a aceitação (ou não) do preço a pagar.


Ainda re-penso...

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Sucesso

"Não existe fórmula para o sucesso, talvez apenas a aceitação incondicional da vida e do que ela traz".
Artur Rubinstein

Limites

Outro dia, conversando com um amigo, que me explicava a invasão sentida, quando amigos, ao se titularem sábios do universo, com conhecimento bastante para aconselhá-lo nas atitudes diversas e adversas de seu dia a dia, causavam.

Me pus a pensar e a repensar...

Cremos que, quando vemos um amigo em dificuldades, em conflitos, em desconforto, que nossa ação deva ser sempre minimizar os eventos. Com esse pensamento, oferecemos sempre soluções, que ao nosso ver, levariam nossos queridos à paz, solução infinda de toda sua eterna vida.

Mas, ao que pude perceber, esta preocupação deixa de lado um item muito importante: o desejo de seu afeto.
Ninguém que eu conheça se lembra de questionar se aquele indivíduo quer uma solução, se ele está feliz dentro do conflito em que vive naquele momento, ou ainda, se não está lhe relatando apenas para contar a arte feita e, talvez queira um incentivo...

Por outro lado, se vemos alguém em rota de colisão, será que não é nosso dever, independente da vontade alheia, alertar, avisar e desviar esta rota? Não estaríamos sendo relapsos, ou menos amantes, se deixarmos essa rota concluir-se?

Ou será que esta sensação de dever que temos, não trata-se apenas de auto-preservação? Veja, pode parecer bobagem, mas ao evitar o sofrimento alheio, estamos evitando que nosso dever se amplie, em um problema maior e mais real, mais denso... Estamos evitando que alguém querido se perca e a culpa, aquela coisinha incomoda no peito, recaia sobre nossos próprios ombros...

Não consigo separar uma coisa da outra. Não consigo separar o que é o dever moral, imposto pelas relações sociais, e o desejo pessoal e real de auxiliar, a vontade de preservar-se ... é indivisível, e não consigo separar o quadradinho adequado...

Por muito tempo acreditei, e talvez acredite até hoje, que é obrigação mínima de amigo aconselhar, ouvir e ajudar... Acho que alguns limites podem e devem ser quebrados em nome da virtude máxima da amizade. Talvez por querer que em situação similiar, meus amigos tenham o mesmo comportamento que eu. Mas, hoje tenho dúvidas, no mínimo, se todos os individuos enxergam desta forma, ou mesmo, se esta é a forma adequada de lidarmos com estas situações.

Talvez seja tudo junto, talvez não seja nada disso... ainda repenso...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Let me fall

Let me fall
Let me climb
There's a moment when fear
And dreams must collide

Someone I am
Is waiting for courage
The one I want
The one I will become
Will catch me

So let me fall
If I must fall
I won't heed your warnings
I won't hear them

Let me fall
If I fall
Though the phoenix may
Or may not rise

I will dance so freely
Holding on to no one
You can hold me only
If you too will fall
Away from all these
Useless fears and chains

Someone I am
Is waiting for my courage
The one I want
The one I will become
Will catch me

So let me fall
If I must fall
I won't heed your warnings
I won't hear

Let me fall
If I fall
There's no reason
To miss this one chance
This perfect moment
Just let me fall 

Mortos Vivos

Chegou Samhain, e com este sabbat nos lembramos dos mortos, dos antepassados, dos familiares, das perdas...
Este Samhain em especial me trouxe mortos-vivos.
Explico: Seres que morreram na minha vida, no meu dia a dia e, que do nada voltaram.
Neste pequeno grupo veio um ex-amigo, que achou que sua morte foi prematura, que o assassinato de nossa amizade foi cruel e demasiado.
Um ex-amor, que já morreu por 4 vezes, e ressuscitou...
Um ex-patrão, que matei e imaginei que só haveriam ossos...

Não sei, estou ficando velha para reprises, repensar eu concordo, mas reprisar, nao. não quero viver e reviver eternamente o que morreu. Eu sinto saudades, mas não o suficiente para me agradar destes mortos-vivos andando ao meu lado.

Acho que eu cresci, por que eu desisto dos renascidos das cinzas do meu passado. Não tenho motivos para me envolver novamente com tudo aquilo que tornou-se ex na minha vida!

Hoje eu EXpurgo, EXorciso e EXtermino meus mortos-vivos.

Se querem viver, vivam, mas não no meu presente! Não me transformem em seres iguais a vocês... morta-viva, sem o novo... sem o frio na barriga... Não, definitivamente eu não quero.

Humpf...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Deixar ir

Algumas pessoas me dizem que mantém determinadas coisas por 6, 10, e até 20 anos...
Outras, como eu, quase não mantém nada, com mais de um ano...
O que é mais adequado para o nosso dia a dia?
Dizem que sem passado, não se constrói a história... Nosso passado é nossa história.
Dizem que observando a história, podemos antever nosso futuro...
Mas também dizem que, ao ficarmos presos ao passado, não vivemos o presente...
Dizem tanta coisa...
Como diz um amigo meu, nada mais que "falácias".
Tudo é bom, tudo é certo... desde que seja o que lhe fale a alma, entre em acordo com o que é necessário guardar... mas, cuidado para não guardar TUDO... assim como, cuide para nao jogar TUDO no lixo...
Não estou falando de coisas, posses e bens apenas... estou falando de mágoas, recordações, amigos...
Se "voce é responsável por tudo que cativas", cuidado com o peso que está se dispondo a carregar, sem necessidade...

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O QUE É DEDICAÇÃO NA BRUXARIA?


 Ao longo dos anos, muitas pessoas têm me perguntado a respeito da dedicação e sobre o que se espera que um dedicado tenha passado para saber se é ou não o momento de chegar à iniciação.
Então, resolvi escrever como é que eu vejo isso.  
Para mim, a dedicação é composta de três aprendizados básicos:
Em primeiro plano, ela é e sempre será uma preparação para o sacerdócio.
Na seqüência, a dedicação destina-se ao contato devocional com os deuses, e conseqüente aprendizado com eles.
Em terceiro lugar, a dedicação também é aprendizado com os outros, aprendizado com os que vieram antes e preparação para que aprendam a ensinar aos que vierem depois.
Enfim, Dedicação, não é nada mais, nada a menos, que dedicação integral, ao caminho sacerdotal que escolheram.
Minha tarefa neste processo, como sacerdotisa iniciadora, é apresentar o caminho do sacerdócio ao postulante. A tarefa do postulante, por sua vez é escolher se quer ou não continuar neste caminho. Se ele (a) deseja ou não se iniciar e levar uma vida sacerdotal.
Como dedicadora, tenho o dever de avaliar a evolução de cada um neste caminho. De avaliar se o desejo é real ou não. Tenho o dever de apresentar, seja com tarefas, com exemplos ou com teoria, o rico mundo da magia e do sacerdócio.
O dedicado é direcionado a pesquisas relacionadas tanto com conhecimento teórico da historia da bruxaria, quanto ao estudo das principais civilizações pagãs e suas mitologias. Além disso, pesquisas sobre metodologia de oráculos e feitiços, sobre leis e praticas mágicas.
De acordo com a evolução do conhecimento teórico, direcionamos o treinamento prático.
Porém, eu acredito que o mais importante do processo, é o direcionamento ao autoconhecimento, pois é essencial que o postulante se conheça, se reconheça, para então conhecer e reconhecer a divindade em si.
Abaixo eu cito alguns dos itens que pra mim são básicos para evitarmos erros graves, tanto na vida sacerdotal, quanto na vida mágica diária enquanto avaliamos se estamos ou não prontos à iniciação.
Quando estiverem se perguntando em que fase está rumo à iniciação, analise se você aprendeu, ou no mínimo iniciou o aprendizado de cada um destes itens.
1 - Aprender a compartilhar
O poder; o conhecimento; as responsabilidades; as dificuldades; as alegrias; as ambições; a fé; o serviço; a liderança; as mágoas; as verdades; seu eu verdadeiro; suas descobertas sobre você mesmo; suas descobertas sobre o outro e principalmente o futuro.
Aprender a compartilhar é extremamente importante. Quando se pretende fazer parte de algo.
Um sacerdote da Wicca faz parte de um conjunto maior e tem a responsabilidade da manutenção deste grupo, mesmo que seja um praticante solitário.
Ser um sacerdote wiccaniano, dentro de uma tradição, reforça essa necessidade por que a responsabilidade dentro desta tradição é mais forte, mais perceptível e certamente mais evidente.
Ser um sacerdote, dentro de um coven implica em tornar-se uno com os outros membros. Tornando-se uma parte da identidade do grupo, sem deixar de ser o grupo inteiro.
2 - Aprender a respeitar
A si mesmo; aos membros do grove; aos membros do coven; a sua família; as suas vontades; as outras religiões; as outras opções; as decisões; aos deuses; os atos mágicos; o aprendizado; os ensinamentos; o segredo; o público; o tempo; a natureza; o seu corpo; o corpo dos outros; a sua sexualidade; a sexualidade dos outros; seus desejos; os desejos dos outros e infinitas outras possibilidades, tão diversa quanto à natureza.
Respeitar não significa apenas aceitar o que os outros são, têm, ou pensam. Significa que, independente da opinião do outro, você respeita o direito do outro de pensar assim. Mesmo que discorde.
Respeitar implica em vocês não ultrapassarem, nem permitirem que ultrapassem os limites de cada um.
Respeitar significa se colocar no lugar do outro, quando se mente, quando se trai, quando se desrespeita e menospreza a capacidade emocional, intelectual, ou espiritual do outro.
Respeitar é dar a importância real que cada ser vivo ou criado tem, e isso inclui você mesmo!
Respeitar é olhar a divindade, como parte de você, e você como parte dela.
Respeitar é primeiramente um ato de amor, amor a diversidade, que é a marca mais forte da deusa. Diversidade!
Respeitar é ser justo. Sempre. Nada a mais, nada a menos, apenas o justo.
A única maneira de aprender a aplicar o respeito, pelo menos que eu conheça, é através do amor. Primeiro ame você, depois aos outros.
Sempre peço aos meus dedicados que pensem a respeito! Você já aprendeu a se respeitar? Já aprendeu a respeitar o tempo que dedica a alguma atividade? Já aprendeu a respeitar o tempo que dedica a você? Não apenas dentro da bruxaria, mas fora também.
Você já aprendeu a respeitar suas vontades, seus desejos? E o respeito ao caminho que resolveu seguir a algum tempo atrás? E os compromissos que esse caminho implica?
Você respeita sua palavra? Faz sua palavra ser respeitada? Você respeita suas decisões? Respeita seu corpo?
Pense em quanta coisa existe à sua volta para testar seu aprendizado de respeitar...
3 - Aprender a rir
De você; das tristezas; dos erros; das situações; das desavenças; do imprevisto; de uma boa piada; da vida; das perdas; dos próprios esquecimentos; do esquecimento dos outros; das perfeições; das imperfeições; da deusa...
Não leve a vida tão a ferro e fogo. Rir, gargalhar, chorar de tanto rir.
Isso implica que você libera os seus sentimentos. Tenham em mente, que nosso mundo é mutável, cada mudança acontece a cada segundo. Tudo muda rapidamente. Lágrimas têm que ser transformadas em riso, principalmente na vida de um bruxo. Pare de lamentar-se. Ria. Transforme sua vida em atos contínuos de prazer e alegria. Chore, quando necessário for, mas não dedique mais tempo que necessário as lágrimas.
Não está bom? Lamentar não vai ajudar em nada! Aja, para que tudo fique bom e para que a situação mude.
Aprenda. Não lembra? Repita. Não conseguiu? Tenta de novo. Mas ria, ria sempre. Libere as endorfinas do seu corpo. Deixe-as circular rapidamente. Habitue-se a ser feliz. Jogue fora o hábito de reclamar!
Reclamando, se perde muito tempo falando do que é ideal, do que é desejável, de como gostaria que fosse! Bruxos não desperdiçam tempo! Não desperdiçam energia! Se nada pode ser feito, dê um ponto final! Pare de reclamar e olhe para frente.
Comece a agir hoje de forma que amanhã o sorriso seja mais duradouro no seu rosto. Esteja satisfeito com suas opções. Se elas não são as melhores, são as que você tem em mãos! Então faça o que puder para que seja a melhor!
Reclamar do defeito do outro, não é produtivo. Reclamar do hábito do outro, não é produtivo. Reclamar nunca é produtivo!
Ação, movimento, atitude. Isso sim é produtivo!
Você tem agido de maneira a mudar as suas tristezas? Você tem agido na sua própria vida ou permite que ajam por você? Está satisfeito com seu trabalho? Está satisfeito com suas relações amorosas? Com suas faculdades? Com seu aprendizado?
Suas ações são guiadas pela satisfação de seus desejos, no intuito de torná-la uma pessoa plena e integra?
Reflita.
4 – Os quatro pilares da magia... Saber, Querer, Ousar e Calar.
Qual é compromisso que você, atualmente, tem na sua vida diária com cada um destes itens?
Você sabe o que quer? O que ousa obter? Guarda o que deve ser guardado? Expõe o que deve ser exposto? Quer o saber? Está disposto a pagar o ônus de cada uma destas leis?
 5 – Consciência
Já aprendeu a estar consciente da sua própria vida? Do seu próprio corpo? Das suas necessidades? É consciente do mundo que o rodeia? Sua consciência consegue ultrapassar os limites desta realidade?
6 – Escolha
Você sabe escolher? É consciente de todas (mas todas mesmo) suas escolhas? Sabe que a vida cobra por suas escolhas? Sabe o peso das escolhas e das não escolhas em sua vida?
7 – Responsabilidade
Você é responsável pelo que está a sua volta? Pelos acontecimentos que o atinge? Ainda culpa seus pais pelos seus erros? Culpa a sociedade? Quem é o objeto das culpas ao seu redor atualmente?
8 – Disciplina
Você é disciplinado?
Imaginem a cena: Sua mãe/filho/cachorro está doente, sob risco de vida. Médicos desenganaram. Nada garante a sobrevivência. Vocês têm disciplina o suficiente para passar uma semana, trabalhando, dia e noite, magicamente, sob jejum, tecendo algum feitiço para a manutenção da vida desta pessoa?
Se sua resposta é sim, eu pergunto então, você faz uso desta disciplina, ao fazer qualquer ato mágico e não mágico na sua vida? Seu treinamento dura o período proposto?
Se sua resposta é não, eu pergunto, como você conseguirá fazer qualquer coisa na sua vida, que  dependa exclusivamente do seu esforço? Como você pretende atingir o sucesso, seja em feitiços, no seu relacionamento com a deusa, na sua faculdade, no trabalho, se não aprendeu a usar a disciplina como ferramenta e aliada?
9 – Liberdade
Você já sentiu o gosto da liberdade? Sabe o que é isso? Gostaria de ser livre? Por que não é? Onde você está preso? Quem te prende? Por que está preso?
Já se viu sem amarras? Saberia como viver em liberdade?
11 – Humanidade
Você se aceita como um ser HUMANO? Um ser que tem seus defeitos e que tem falhas, mas que também tem seus amores e suas qualidades?
Você acha que deveria se perfeito? Você se permite ter falhas e falhar de vez em quando? O conceito de humanidade é claro pra você?
Se você entende que está cercado por humanos e que você é humano, permita que eles também tenham falhas.
 Se você fosse a deusa, o que mais lhe atrairia no HUMANO? Qual é a principal qualidade do humano pra você? E qual o maior defeito?
12 – Auto-estima
Você sabe o que é amor a si mesmo? E o que é o amor à deusa? O que é o amor a vida?
Pense em que tipo de presente você dá as outras pessoas. E no tipo de presente que pretende dar a deusa. Você teria coragem de dar a ela algo que você não amasse? Então pense em como você tem se amado, como você tem se tratado. Este material que você vai entregar a ela está nas condições adequadas?
13 - Verdade
O que é a verdade? Quando ela deve ser usada? Por que não usá-la o tempo todo? O que acontece com você, que faz com que você se veja obrigado a mentir? A quem você ilude quando mente? Quando é que a ilusão, tem prioridade na sua vida? Por quê?
Enfim, esses questionamentos são para mostrar as coisas que espero que meus dedicados saibam responder, pois estas foram as perguntas que o sacerdócio me fez. São questões que a Deusa me colocou ao longo da minha dedicação e ao longo da minha vida sacerdotal.
Eu não quero apresentar à Deusa uma pessoa que não saiba seu próprio valor. Que não saiba o valor do divino, do humano, da verdade, do compromisso, da coragem, da ousadia, da liberdade, da responsabilidade, da disciplina, da vontade, do amor, do saber, do oculto...
Não pretendo apresentar seres perfeitos, mas sim seres sinceros nas opções que fizeram de serviço e de amor.
Quero apresentar aos deuses seres que tenham coragem de olhar para seu pior defeito, e dizer em alto e claro som, eu me amo, também por esse meu defeito!
Que digam que têm coragem de olhar no fundo da sua própria ferida, e apos lambê-la, resolvam se levantar, e mudar o tipo de erros que vão cometer...
Que sejam conscientes da sua importância na teia da vida, que respeitem a si mesmos e aos outros, dando valor devido a cada uma das situações que a vida impõe... Que não tenham medo de errar, mas tenham a coragem de tomar as decisões certas para sua própria vida.
Seres conscientes de si mesmos, seres íntegros...
Pois eu só apresentarei aos deuses, seres dignos de recebê-los.


Estas são as minhas preocupações ao discutir se um dedicado está ou não pronto para ser apresentado aos deuses. Mas não implica que sejam os únicos pontos a serem avaliados, mas mostram bem o caminho de autoconhecimento que precisa ser percorrido.
Espero que possa ajudá-lo a perceber o quanto precisamos estar ligados a nós mesmos e ao todo, neste mesmo instante e agora.
Bênçãos de Hécate, nossa iniciadora.
Calixto Circe Cency
3c 23/01/2006

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A vida é Foda, então... Foda-se

Por mais agressivo que possa parecer este título, trata-se de uma verdade nua e crua, porém, acima de tudo, simples de nosso cotidiano. E é esse o título do livro de meu amigo Genillson de Pulcinelly.


Sem a pretensão de um mestre ou sábio, o Genillson mostra de forma simples e direta nossa facilidade em seguir regras e a dificuldade em sentir prazer, sem dissociá-lo da culpa. Um reencontro mais que esperado da moral e da transgressão, sem invasão, sem distorção e, acima de tudo, sem julgamento sobre o que é certo ou errado para cada indivíduo.


Tive o prazer de acompanhar a concepção e o nascimento desta obra e por isto sou muito grata.


Se puder e, se quiser, vale a pena viajar nesta experiência com Lilith, nossa negra e amada Deusa, e suas lições de transgressão.


O Lançamento e a noite de autógrafos será agora, dia 30 de setembro, às 19h, na Gelateria Parmalat na SCLS 108 Bloco B.


A VIDA É FODA ENTÃO FODA-SE
LILITH O PRAZER DA TRANSGRESSÃO


Não perca!!!!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Orgulho em Ser Pagão

Comemoramos no dia seguinte à Mabom, o Dia Mundial do Orgulho Pagão.
Para quem não conhece, Mabom é um dos oito sabbats (festivais solares), celebrados pelos wiccans (neo-pagãos). É a celebração da segunda colheita, o segundo sacrifício do deus que prepara-se para a morte.
É um festival de ação de graças e de recolhimento. Período de escolha das sementes para os nossos novos projetos. Época de livrar-nos dos pesos mortos e pesados da roda passada para recebermos novas e preciosas bagagens para a roda vindoura.

Hoje, equinócio de Primavera no Hemisfério Sul, eu repenso: Orgulho de ser pagão?
Somos muitos, mas ainda escondidos. Nos dizemos livres, mas mantemos amarras tão fortes quanto âncoras de transatlânticos.
Confundimos muito facilmente o abandono da religião predominante e dos pecados, com uma imprudente libertinagem disfarçada de sombras libertas. Respeito com hierarquia sodomita. Sacerdócio com exercício de aptidões Nazistas.
Julgamos que estamos certos, e por isso sacrificamos crenças diferentes da nossa, tal qual queimadores de livros e mulheres diferentes...

Será que estou amarga? Será que é à minha volta apenas que isto ocorre?

Ou será que, não tenho muito orgulho do que temos a mostrar?


Talvez a tarja roxa deva ser de luto pelo que tenho visto... não sei...