Era uma vez, em uma conversa logo após minha chegada em São Paulo, uma moça, já não tão moça assim, que sofrera um acidente - no intervalo de 4 horas, a moça teve duas quedas. O resultado da primeira queda foi uma dor aguda e inchaço no tornozelo, da segunda um joelho cortado e inchado. (não sei se a ordem das quedas está correta, mas...). Resultado final, a moça, não tão moça assim, não conseguia andar.
Bom, minha primeira reação, por que eu sou um doce de pessoa e adoro me doar, provocar alívio de dor e etc e tal, foi de massagear a moça, enquanto tentava descobrir se algo emocional tinha provado os acidentes...
Fiz massagem dos pés a cabeça... e ouvi a história das quedas:
"Minha mãe queria que eu fosse ao lugar x (eu não lembro o lugar), e eu não queria ir... mas pra evitar encheção de saco eu fui, aí quando estava no lugar y, caí, do nada! E machuquei... Depois, com muita dor, minha mãe, queria que eu fosse no lugar w, e eu com muita dor disse que não iria, e ela praticamente me puxou pelo braço, me forçou a subir no ônibus, que fez a dor aumentar muitíssimo, e ela nem se incomodou... bom, eu fui né, fazer o que, não ia descer no meio do caminho com aquela dor! (pausa). O fato é que, quando chegamos no lugar w, caí de novo! e fiquei ali estatelada, e minha mãe riu, e sequer se dignou a me ajudar! Foi assim que eu me machuquei, caindo de madura, sem nada demais pra provocar as quedas..."
Nessa altura a massagem já tinha chegado à face de minha interlocutora, e eu ouvindo, enquanto matutava com meus pensamentos, o que de fato minha "paciente" estava dizendo...
Eu me gabo, dizendo que tenho interpretação analítica, e portanto, compreendo o que não foi dito e revelo...
E a "revelação" deste trecho da conversa foi simplista: Minha mãe é meu algoz. Ela judia de mim. Ela não me ama! Como eu queria que alguem se importasse comigo e não me provocasse dor! Pensa mal dela, por favor!
E depois, para finalizar, na frase final, ela se justifica, quando diz que caiu de madura, que ela não tem "culpa/responsabilidade" alguma, sobre a queda, foi o universo que decidiu, foi a mãe dela quem decidiu que ela receberia as dores...
Cenas como esta, me rodeiam o tempo todo, e eu acho que tenho a missão de dizer o que me foi "revelado", dar a informação, e tirar do interlocutor a chance de dizer: "eu não sabia". E de fazer o que quiser com a informação recebida.
No caso acima, perguntei à moça: Por que você foi? Por que não disse não?
Você entende que não fazer uma escolha, implica em uma escolha?
Sua mãe não é má, como você tentou transparecer, ou talvez até seja, mas de fato, seu grande algoz foi voce mesma. Você optou por ir onde não queria, você optou por não ouvir o grito da primeira queda, dado pelo seu corpo, dizendo "Por favor! Não vá!".
Preferiu ignorar seu corpo, sua mente, seu gosto e aceitou o desgosto. Aceitou martirizar-se.
Será que para você, a vantagem não seria então fazer com que o mundo concluisse com sua historia, que você tem um algoz que te faz submissa e torturada, mesmo nas piores condições físicas? Sem pena ou compaixão alguma... Será, que você não está adotando o martírio, e colocando o chicote nas mãos de outros para se desculpar, justificar, ou ainda, para obter alguma atenção?
É óbvio que meu tato e timing são extremamente falhos e agressivos. Eu assumo....
Mas, a história acima me fez pensar nas muletas, físicas e psicológicas, que usamos, e nas motivações que impulsionam este uso.
Na minha cabeça, a formulação é óbvia (repito, na minha cabeça!): Não estamos acostumados a escolher. Não temos consciência de nossas ações, nem de nossas escolhas.
Ora por que não queremos, ora por que não precisamos, ora por que não sabemos.
Seja o motivo que for, acho que sai muito caro pensar que o nosso algoz mor, somos nós mesmos!
Adoecemos para obter atenção, mas morremos no processo.
Nos machucamos como a moça acima, colocamos o outro na posição de algoz, culpamos, mas, doemos muito no processo...
Será que estaremos aptos algum dia à não criar um "diabo" pra receber as culpas dos nossos "pecados"?
Será que isso é influencia da educação cristã, que nos obriga à sermos bonzinhos, e a nos considerar maus, quando não somos aceitos, atendidos ou amados...
Não sei, ainda repenso...
Eu sonho com um mundo mais colorido e mais leve... Tento fazer a minha parte, reformulando e reinventando uma pessoa mais leve... Ponho isso na minha fé e no meu cotidiano, nos meus estudos e no meu trabalho. Acredito na magia que circunda o todo, em fadas, dragões, deusas e deuses... Sem deixar de ver o que é feio, não mágico e mal neste mundo... Apenas escolho viver em amor... Não nego a maldade e o pior em mim... só sei quando e por que usar...
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Adorei o post! As pessoas (todo mundo) criam muletas e colocam a culpa a algo externo a elas o tempo todo... às vzs sem perceber né...
ResponderExcluirEu procuro observar isso em mim pra não deixar isso dominar... e quando acho q me cabe, falo isso pra pessoa q faz o mesmo.
Beijo Circe!!!