segunda-feira, 12 de abril de 2010

São Paulo

É, eu voltei à Sampa... depois de tres anos de abandono à cidade... voltei a ve-la.
Achei que eu tinha me esquecido como andar na cidade... mas não, eu ainda lembro. E isso até me decepcionou, pois, eu espero que as coisas mudem, e pouca coisa mudou...
Nem vou citar a política, nem vou citar a desordem da cidade que nunca para... ela nunca para... mas nada muda...

Visitei minha família, alguns amigos... e quase nada mudou.

Passei boa parte do tempo reparando nas mudanças que não aconteceram, ou pior, nas mudanças que aconteceram comigo desde a ultima vez que lá estive...

Minha avó, tadinha... tá cada dia pior no quesito irritabilidade (sendo socialmente adequada, pois o correto seria dizer que ela tá um pé no saco à cada 30 segundos). Minha tia e minha mãe estão tristes.

Sabe aquela tristeza de chegar à um lugar e ver que não era lá que voce queria estar? Então, é essa tristeza que transparece aos olhos delas.

Meu primo e meu irmão estão menos infelizes, mas não muito menos.

Talvez eu esteja usando a palavra errada... talvez o que eu esteja vendo nos olhos deles é um conformismo que muito cedo me abandonou. Um quê de "não espero mais nada, pois nada vai mudar"...

Isso me arrepia, me dá desespero e náuseas!

Eu uso qualquer artifício para deixar em meus olhos o brilho chamado "eu nunca vi isso antes! é tão lindo!!!", e quando volto às minhas origens, vejo que isso não existe...

É inevitável pensar se, essa minha vontade de vida, de novo, de riqueza e paz interior, não são apenas ilusões que criei para meu dia a dia... para não cair no tédio. para não perceber que talvez, o conformismo que vejo lá nos olhos deles (e nem preciso olhar tão fundo assim!), não seria o mais proximo ao estado de felicidade que eu poderia chegar....

Prefiro pensar que não. Há membros novos na família! que deixei no forno na última vez. Chegaram o Davi e a Marina. Lindos e sorrateiros! E ainda não têm o conformismo no olhar. Ainda têm a sede de mudanças.

Mas o que fazer com a opacidade dos olhos mais velhos? Será que ainda é possível trazer mais viço, mais amor, mais alegria pra esses olhares?
Será que a necessidade ajuda ou atrapalha nesta busca?

Não sei... ainda devo repensar este assunto...

Mas, acho que estou sendo injusta. Há afeto e há amor, mas ele é mal expresso em palavras e olhares. Julga-se suficiente ações... (mas será que não o é???).

Minha mãe tornou-se agora evangélica, e parece que seu conformismo contém um pouco mais de esperança no futuro. Minha avó a acompanha, não com a mesma fé, mas como boa (?) companhia. 
Minha tia tornou-se avó...E assim, mãe de novo. 

Talvez as crianças tragam esse brilho e essa vontade que eu não mais percebo de volta a estas mulheres sofridas... Talvez essas mulheres sofridas apaguem o brilho dos olhos das crianças.... talvez....

Mas o que sei é que matei as saudades, como se voltasse a um album retratos, num determinado momento do tempo, em que deixei de ser criança, mas que ainda é dificil me verem como adulta.. rs... (apesar de minha mãe dizer que tenho 198 anos e 215 quilos!)

Essas mulheres que sofrem de dores do passado, e ao passado se agarram, mereciam um remédio para a memória... para apagar a memória! Então, só então, reacender a chama dos olhos... reacender a chama da vida...

Gostaria de poder trazer esta luz, mas... acho que não tenho tanta assim....

Isto me leva a pensar, será que mantenho o brilho por que não tenho memória? Ou será que é por que não tenho história mesmo? Assunto complicado este.

Bom, mas estou de volta ao meu lar e ao meu reino... Com meus bichinhos amados, com meus amigos queridos... Alias, uma de minhas amigas está com dengue... chato isso! 

Entre mortos e feridos, estou eu de volta, repensando minhas origens!

repensando
repensando

2 comentários:

  1. Oi Circe,

    Achei lindona a sua reflexão. Parece que vc está levando a sério esse negócio de parar para repensar, rssss.

    Lendo o seu texto, me ocorreu que, talvez, você mantenha o brilho no olhar porque você tem consciência de que o brilho *é necessário* (pelo menos, para você). Agente sempre procura preservar aquilo que precisa.

    Por incrível que pareça, muita gente não tem essa necessidade, ou não tem a consciência dessa necessidade. Foca tudo no amanhã, em um sucesso, em um plano, e quando esse amanhã não vem, perdem o brilho. Isso acontece muito com as mulheres: quando novas, vão encontrar sua alma gêmea, vão ser belas, vão ser boas de cama, vão ser bem sucedidas, vão ser magras, vão viajar muito, vão ter filhos, ou vão ser independentes... e quando os anos passam e essas coisas não chegam, ou chegam mas não preenchem o vazio, o brilho some. E aí é que a porca torce o rabo. O que fazer?

    Outras pessoas - um pouquinho mais raras - percebem que a felicidade vale por ela mesma, que a vida vale por ela mesma, e tentam viver com o brilho nos olhos a cada dia, todos os dias.

    E existe um monte de gente que está entre uma coisa e outra, pois o mundo é super variado e cada um reage de um jeito. :)

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  2. Gostei de ver você perguntando... risos! e nem vou, talvez, um dia, sugerir que vc se candidate à presidência da república! Prometo.
    Talvez eu possa responder, agora, à pergunta que vc me fez porque eu perguntava tanto...
    é que quando a gente tem brilho nos olhos, esse brilho não basta só para nós mesmos. A gente tem a renitente vontade de ver todo mundo com o mesmo e diferentes brilhos nos olhos.
    E o que machuca mais e mais apaga o brilho dos meus olhos é que, talvez, os velhos tenham mesmo que ter opacidade nos olhos porque se deixaram envelhecer, enquanto vemos jovens insistindo tão alucinadamente para NÃO ter brilhos nos olhos.
    Me entende um pouquinho mais, agora?

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