sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Iniciação

Iniciar-se na wicca, significa tornar-se sacerdote ou sacerdotisa da Deusa, da Grande Mãe.
Muita gente me pergunta o que é preciso para iniciar-se, e, sinceramente, hoje minha resposta seria: Nada!
Tradicionalmente dizemos que para que uma iniciação ocorra, é necessário que o dedicado/postulante tenha passado no mínimo um roda completa, um ano e um dia, em contato com os ritos lunares e sazonais, também chamados de esbats e sabbats. Ou seja, que este adepto tenha iniciado seu contato com a Deusa, tenha se harmonizado com os elementos, que tenha aprendido a se conhecer através da roda do ano.
Esperamos que o processo, o contato com os outros mundos, moldem esta pessoa ao serviço da Deusa. Porém, muitas vezes, tornamos o processo tão mecânico, que transformamos esse período de dedicação, em uma série de tarefas/desafios e aprendizados obrigatórios, que fazem com que este período que deveria ser de amor, em um treinamento intenso, com enfoques muito utilizados em administração comercial de metas e resultados.
Os comportamentos individuais e repetitivos precisam ser mudados e moldados de acordo com a vontade, com o caráter, com a motivação, com a experiência do iniciador...
Tudo que destoar da visão do iniciador sobre as verdades mundanas, será tratado como questão de sombra, nó mágico, bloqueios e resquícios cristãos.
O dedicado Deve ser quem o dedicador Deseja que ele se torne. Sua individualidade, sua marca essencial, sua forma de ver o mundo vai, pouco a pouco, deixar de existir. Restando apenas as condições consideradas favoráveis pelo iniciador, para que este ser se torne um conhecedor dos mistérios.
Vejam bem que eu não estou dizendo que este processo é ruim ou errado. Pelo contrário. Eu passei pela dedicação neste contexto. Eu dediquei neste contexto. Eu iniciei pessoas neste contexto. Acho este critério válido. Mas acho este critério também curto, vago e superficial.
Nós, os iniciadores, não temos como treinar alguém, neste sistema de metas e resultados, sem colocar nosso senso crítico em funcionamento. E é óbvio que nosso senso está ligado às nossas experiências pessoais. Às nossas vivencias e às nossas crenças.
Mas se não atentarmos para o indivíduo ali na sua frente, se não nos esforçarmos para conhecê-lo profundamente, deixamos passar o motivo do chamado da Deusa!
Sim, pasmem: A Deusa nos chama ao sacerdócio! Quando este chamado ocorre, normalmente estamos crus, inconscientes de nossas habilidades e fraquezas, ingênuos e perdidos. Ela chama, ela atrai e ela nos escolhe como somos. Ela nos escolhe como indivíduos imperfeitos, que têm algo em sua natureza imperfeita, que se encaixa perfeitamente no sacerdócio que Ela espera de você!
Ah! Então não precisamos mudar! Rosários, pentáculos e os estudos são totalmente desnecessários? Não. Precisamos mudar sim. Mas não precisamos nos tornar outras pessoas. Não precisamos nos tornar uma Alma-Grupo. Não precisamos nos transformar em abelhas que matam sua existência em prol do benefício de pertencer a uma colméia com uma abelha-rainha.
Quando Ela nos chama, quando Ela nos toca, Ela o faz por termos algo a oferecer. Mas muitos chegam à iniciação sem saber o que é este algo que Ela viu. Muitos passam anos após serem iniciados para perceberem esse algo. E alguns, nunca percebem.
Mas Ela nunca se esquece do motivo que a levou a fazer o chamado.
O papel da iniciadora neste contexto é mais importante que apenas instruir. O papel da iniciadora é de aprender a conhecer aquele indivíduo, e acima disto tudo, o papel da iniciadora é fazer com que o seu dedicado se aprenda. Aprenda quem ele realmente é. Qual é sua essência. Como ele se comporta. Por que ele foi chamado. Porém, tudo isso sem um molde pronto. Sem uma expectativa, sem uma fórmula. Pois não é a iniciadora quem irá responder a estas questões. E sim o dedicado. Talvez a própria Deusa responda para ele, o dedicado. Ao iniciador cabe o papel de acompanhar e orientar estas descobertas.
O papel do dedicado, antes da iniciação é buscar o contato com a Deusa, o equilíbrio com a natureza, inclusive com sua própria natureza, é conhecer os ciclos, mas acima de tudo é conhecer-se a si mesmo.
Após a iniciação, o iniciado passa então para sua real busca: Como servir à Deusa, sendo como eu sou. Como servir com minhas habilidades e fraquezas? Quem eu sou, aos olhos d’Ela?
Ou seja, somente após a iniciação saberemos por onde esta busca de fato começa!
Mas, se eu não estudar os ritos, se eu não conhecer os pilares da magia, se meus resultados não forem bons na prática de magias e poções, se eu não souber como fazer ser constructo elemental, se eu não sonhar com o futuro, se eu não desenvolver nenhuma habilidade psíquica, se eu não contatar fadas e dragões, se eu não vir fantasmas, se eu não explodir lâmpadas e se eu não for capaz de fazer um feitiço sequer? Se eu não conseguir curar, se eu não conseguir amaldiçoar, se eu não fizer viagens astrais? Será que a Deusa vai querer? Será que ela não vai me considerar um fracassado, um pulha mágico?
Vamos pensar um pouco: Ela te chamou? Ela te tocou? Se sua resposta for sim, então, talvez Ela só queira de você o que você tem pra dar, sua perfeita humanidade imperfeita!
Se Ela te chamou, independente de você ter habilidades mágicas ou não, de você ter um iniciador, uma tradição, um conhecimento histórico e religioso, Ela se encarregará de prepará-lo para o sacerdócio. Ela se encarregará do seu treinamento, do desenvolvimento dos seus dons. E muitas vezes Ela porá em seu caminho, pessoas, livros, coisas e situações, que irão encaminhá-lo nesta busca. E a você só cabe uma coisa: ser quem você é!
Esta é uma religião de fé. Fé na existência d’Ela em você, com você e por você, portanto, se Ela quer você, tenha fé e confiança nEla, pois ela irá apresentar seus desafios e aprendizados, sem dúvida alguma.
Tenha certeza de que tudo o que ela toca muda, mas tudo que é mudado em você, só acontece por que você quer, por que você deseja, não por que alguém lhe disse que deve ser assim. Este é o grande mistério: Para ser um sacerdote da Deusa, você tem que amá-La, mas acima de tudo, tem que amá-La e respeitá-La dentro de você mesmo!
Seja quem você é, o resto, é com Ela!

4 comentários:

  1. Nossa, Circe. Concordo em gênero, número e grau sem tirar nem por! Para mim é esse o real sentido da iniciação. Isso, isso, isso! *dá pulinhos* :D

    Eu li em algum lugar que é mais fácil sermos "alguém melhor" do que sermos nós mesmas. Acho essa frase super verdadeira, principalmente no que se refere ao sacerdócio diânico.

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  2. É mais fácil sermos qualquer um... melhor, pior, diferente, enfim, qualquer coisa, que não seja voce mesmo... eu concordo...

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  3. Adorei o que li e li o que adorei e adorei ter lido e ter adorado o que li e adorei!!!

    Adorei tanto quanto usei a palavra adorei!!!

    bjs

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  4. muito bom este aprendizado que nos passa sobre iniciação Circe, sempre que posso estou acompanhando seu blog.

    Abs
    Éristiin

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